sábado, 5 de maio de 2012

Romeu e Julieta (Parte 2)

Pintura de Ford Madox Brown (1870)
          Dentre os muitos temas presentes em Romeu e Julieta, pode-se destacar o amor, a violência, as oposições (como juventude X velhice, amor X ódio, livre-arbítrio X destino) e a dualidade das coisas.

          Quando se fala em Romeu e Julieta, a primeira coisa que vem à mente é amor. É importante lembrar que na peça estão demonstradas três formas de amar: a sensual, física, representada na figura da Ama; a por conveniência, retratada por Páris, e a romântica, verdadeira, simbolizada por Romeu e Julieta. Shakespeare também inseriu na sua tragédia uma prática muito comum no período elisabetano, uma convenção amorosa denominada amor cortês. A princípio, Romeu estava apaixonado por Rosalina e, não sendo correspondido, tornou-se avoado e melancólico. No entanto, assim que avista Julieta pela primeira vez, é atingido pelo Deus do Amor e apaixona-se imediatamente.

          O autor igualmente aborda a questão da violência e estrutura cuidadosamente as entradas do Príncipe na história. O Príncipe entra em ação três vezes: na abertura, no meio e no fechamento da peça. Todas as suas aparições são em resposta aos atos de violência, incluindo a briga de rua dos Montecchios e Capuletos (Ato I, Cena 1), as mortes de Mercúcio e Tebaldo (Ato III, Cena 1) e as mortes de Romeu, Julieta e Páris (Ato V, Cena 3). O Príncipe parece a voz de ordem, fazendo o julgamento na caótica sociedade de Verona. Este é, possivelmente, o melhor modelo de comportamento masculino na peça: imparcial e justo, ele também se opõe à violência civil.

          A oposição entre livre-arbítrio e destino pode ser observada logo no Prólogo da obra: no original, a expressão star-crossed lovers demonstra que a sina dos jovens já estava escrita nas estrelas, assim como o verso death-marked love (amor fadado à morte). No entanto, Romeu e Julieta também possuíam livre-arbítrio – a decisão de se casarem partiu de ambos.

          Por fim, Shakespeare destaca a dualidade das coisas. A morte do casal, por mais trágica que tenha sido, transformou Verona e deu fim à rivalidade e ao ódio nutridos por Montecchios e Capuletos. O papel do Frei Lourenço per se também é ambíguo: apesar de sua intenção em ajudar os jovens, foram suas ações que causaram seu sofrimento. Sobre o impacto que a tragédia causa na plateia, Frye (1992) faz uma bela observação:

Uma paixão como a deles, se permanecesse aqui, consumiria rapidamente um mundo de pais severos, de Tebaldos confusos e de amas tolas. Nosso entendimento disso ajuda-nos a conceber a peça como um todo, evitando que sintamos que se trata apenas de dois amantes que se saíram mal. Não é que tenham se saído mal, eles simplesmente saíram... Aliás, o amor deles sempre esteve fora deste mundo (FRYE, 1992, p.49).

Bibliografia:
  • JACOBSON, Karin. CliffsComplete Shakespeare's Romeo and Juliet. New York: Hungry Minds, 2000.
  • FRYE, Northrop. org. Robert Sandler. tradução e notas Simone Lopes de Mello. Sobre Shakespeare. São Paulo: Edusp, 1992.

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